quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entre Inimigos, de Martin Scorcese (2006)

Há filmes que merecem uma segunda oportunidade. Da primeira vez que vi este «Entre Inimigos», de Martin Scorcese, um dos realizadores que mais admiro, fiquei um bocado chateado e odiei o filme. Até tive uma grande discussão com um amigo meu sobre o filme e quando o vi ganhar o Óscar, frente a «Cartas de Iwo Jima» (talvez o mais belo filme de guerra de sempre), ia-me dando uma coisinha má.

Tudo porque gostei bastante do original de Hong Kong que é a base desta obra, de seu nome «Infernal Affairs». E no primeiro visionamento de «Entre Inimigos» deixou-me embasbacado, pois é um universo completamente diferente e não queria acreditar no que tinha acabado de ver.

Até que hoje resolvi tirar a prova dos nove e rever o filme de Scorcese. E constatei que o meu amigo tinha razão, o problema era ter bem fresco o filme original. É que tirando a base da história, «Entre Inimigos» não tem quase nada a ver com o original.

De facto, rever o filme sem me lembrar do outro fez-me ver um grande filme. Não ao nível do Martin Scorcese dos velhos tempos, mas mesmo assim um grande filme. A história é simples: um jovem (Matt Damon) que cresceu na máfia irlandesa de Boston, liderada por um excelente Jack Nicholson, injustamente não nomeado para o Óscar de secundário nesse ano, é colocado na polícia como toupeira. Paralelamente um outro jovem polícia (Leonardo DiCaprio, entretanto tornado o menino bonito de Scorcese) acabado de sair da Academia recebe uma oferta para se infiltrar no grupo mafioso.

É um tema que não é novo para o realizador nova-iorquino, basta recordar o excelente «Tudo Bons Rapazes». E aqui a violência está uma vez mais bem retratada. Estamos perante criminosos que não olham a meios para atingir fins. E estes meios vão desde bater em donos de lojas a cortar mãos, a um nível do mais sádico possível. Aqui temos uma boa prestação de Nicholson, em mais um dos seus papéis de maníaco que ninguém gostaria de conhecer num dia menos bom.

Tirando a polémica do Óscar e sem comparar com «Infernal Affairs», este filme é uma grande obra na filmografia de Scorcese. Teve a sorte de contar com grandes actores (além dos já referidos, «Entre Inimigos» conta com nomes como Alec Baldwin, Martin Sheen, Vera Farmiga e Mark Wahlberg, que muito me surpreendeu e considero que tem sido um actor em crescendo nos últimos anos) e o argumento também está muito bem estruturado.

Porque a história vai para além da questão dos agentes infiltrados. Aborda também seus sentimentos e a evolução das personagens à medida que o filme avança. Ninguém escapa às leis e aos acasos da vida.

No que diz respeito à banda sonora, além da entrada de «Brown Sugar», dos Rolling Stones (banda que já faz parte da carreira de Scorcese, nos minutos iniciais, onde o líder da máfia conta a sua história e como chegou ao topo numa brilhante sequência, há também uma música que fica no ouvido (Shipping up to Boston - The Dropkick Murphys) por juntar um rock de certa forma musculado a música de cariz tradicional irlandesa.

Mas mesmo apesar deste segundo visionamento, continuo a preferir o original de Hong Kong, realizado pela dupla Wai-keung Lau Alan Mak em 2002 e que acabou por ser uma trilogia.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

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