sábado, 24 de abril de 2010

Encontro de blogues no Black & White

Realiza-se hoje no Porto um encontro de Blogues de Cinema que pretende ser o primeiro de muitos a organizar pela comunidade de bloggers cinematográficos de Portugal. A iniciativa de hoje decorre no Festival Black & White e terá lugar pelas 18h30. Confirmada está a presença dos blogues AnteCinema, na condição de organizador, e Antestreia, Cinema Is My Life, Laxante Cultural e Split Screen.

O encontro é aberto a todos os que quiserem participar. Mais informações neste link.

Líbano, de Samuel Maoz (2009)

Se há uma palavra para descrever «Líbano» essa palavra é sufoco. A estreia do israelita Samuel Maoz na ficção, depois do documentário «Total Eclipse» de 2000, é um filme brutal e claustrofóbico, que consegue a proeza de colocar literalmente o espectador dentro da acção e sentir o que sentem as personagens. O cenário de «Líbano» é apenas um: um tanque de guerra de uma unidade de jovens israelitas que é chamada a participar numa missão durante o início da primeira guerra do Líbano, em Junho de 1982.

Durante este grande filme acompanhamos os quatro soldados na sua missão e ponto de vista é precisamente o deles. Para além do que vemos dentro do tanque, todas as cenas passadas fora do tanque são vistas através da mira. E se o que se vê dentro da máquina de guerra não é agradável, 'lá fora' não é melhor. Todas as espécies de atrocidades de uma guerra são vistas pelos jovens, que começam a entrar em paranóia e perdem o controlo da situação.

O ambiente claustrofóbico e paranóico vem ao de cima quando a unidade se apercebe que a missão está perdida e ninguém sabe aonde estão. E sendo o único contacto com o exterior um superior que aparenta não ser muito simpático, os jovens não se sentem muito confortáveis na situação e as dúvidas surgem.

«Líbano» é assim um daqueles filmes que nos deixa sem respirar durante algum tempo na sala de cinema, quase uma experiência semelhante à que está a ocorrer com os jovens soldados. Apesar deste sufoco permanente, as imagens mais fortes do filme estão no campo de giras-sóis que surge no início e no final de «Líbano», quando tudo acalma. Mas ao mesmo tempo dá que pensar: o que será do futuro destes quatro jovens que durante poucos dias viram o inferno e escaparam para o mundo 'normal'?

À semelhança do brilhante «Valsa com Bashir», de Ari Folman, que retrata o mesmo conflito, esta obra é mais uma de uma vaga de cineastas de Israel que está a filmar o passado do país e os seus 'pesadelos' em forma de guerra. Infelizmente grande parte destes filmes acaba por não chegar às salas portuguesas, mas parece que «Líbano» já terá sido comprado e tem distribuição prevista para breve. Talvez o Leão de Ouro conquistado pelo filme de Samuel Maoz nos traga esta cinematografia.

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

Sufoco

Líbano, de Samuel Maoz

Banda Sonora: Heroes, David Bowie

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Accident, de Cheang Pou-Soi (2009)

Esta é a primeira crítica de uma série que pretendo dedicar ao IndieLisboa, o festival de cinema independente de Lisboa, que arrancou ontem e decorre até 2 de Maio. Vou tentar aqui apresentar críticas a todos, ou quase todos, os filmes que tenciono assistir.

A saga começou ontem com «Accident», um filme de acção de Hong Kong, realizado por Cheang Pou-Soi, antigo assistente de realização do genial Johnie To. Tal como os filmes do mestre asiático, que foi alvo de uma interessante retrospectiva no âmbito do Indie e este ano traz o mais recente «Vengeance» a Lisboa, não é um filme de acção no sentido directo do termo. Este filme conta a história de Brain (Louis Koo), o líder de um grupo de assassinos profissionais cujo modus operandi consiste em criar acidentes que provoquem a morte dos seus alvos sem que pareça um assassinato.

Logo de início ficamos a saber como eles actuam com uma das encenações em que um pormenor deixa o líder irritado. Num outro golpe tudo corre mal e Fatty, um dos membros do grupo ,interpretado por Suet Lam, um habitué dos filmes de To, morre atropelado por um autocarro. Terá sido acidente? É esta questão que faz arrancar a segunda parte de «Accident», tornando o filme mais tenso, pois Brain começa a desconfiar de tudo e de todos.

Apesar desta segunda parte estar bem conseguida, falta um pouco mais de movimento a este filme para conseguir ombrear com a obra do mestre de Cheang Pou-Soi. Nas cenas dos golpes faltam aqueles movimentos de câmara que To tão bem consegue sacar. Mas o que vale a pena é ver a interpretação de Louis Koo, o enigmático líder cuja história passada vamos ficando a saber aos poucos.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

domingo, 11 de abril de 2010

Um Sonho Possível, de John Lee Hancock (2009)

A presença de «Um Sonho Possível» na lista dos candidatos ao Óscar para melhor filme foi uma das surpresas da última edição dos prémios. Confesso que eu também fiquei um bocado surpreendido na altura, mas ao ver o filme que deu o Óscar de Melhor Actriz a Sandra Bulock percebi em parte o porquê. Não é um grande filme mas tem um factor muito importante: uma boa história simples e feita a pensar no grande público sobretudo oriundo dos EUA.

E essa história é a história verídica de Michael Oher, um jovem negro praticamente sem-abrigo que foi adoptado por uma família branca da classe média-alta do Mississipi e que acaba por se tornar um excelente jogador de futebol americano. É uma história tipicamente pertencente ao universo dos EUA e aqui já se percebia a potencialidade de chegar a um grande público. A nomeação e o prémio atribuído a Sandra Bullock vieram trazer o filme para a História do Cinema, quanto mais não seja como nota de rodapé.

O grande truque deste filme está na forma simples como conta uma história com contornos complexos. Temos um jovem com problemas de aprendizagem que vive num bairro problemático e cuja mãe tem diversos problemas com drogas, uma família cristã do Sul dos EUA que prova o seu amor pelos mais necessitados ao dar abrigo a quem precisa - as cenas em que a personagem de Sandra Bulock conta às amigas porque ajuda o jovem dão-nos uma boa imagem de um certo tipo de pessoas que parecem viver num mundo à parte - e inclusive do desporto escolar e universitário norte-americano.

Ou seja, este «Um Sonho Possível» tinha tudo para ser um daqueles filmes que passam despercebidos. Mas felizmente não passou, pois é daqueles que nos deixam com um sorriso nos lábios quando saímos da sala de cinema e a acreditar que ainda há histórias com final feliz e quem queira contá-las.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

Feel Good Movie

Um Sonho Possível, de John Lee Hancock

Banda Sonora: Vlad The Impaler, Kasabian

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Que Se Passa Doutor?, de Peter Bogdanovich (1972)

Há já muito tempo que não me ria tanto tempo numa sala de cinema. Pelo menos que me lembre. Tudo a propósito deste «Que Se Passa Doutor?» um dos primeiros filmes realizados por Peter Bogdanovich, logo a seguir aos muito recomendáveis «Realizado Por John Ford» e «A Última Sessão». E mesmo tendo no elenco Barbra Streisand este filme é uma daquelas comédias memoráveis que partindo de uma situação simples se transforma numa autêntica balbúrdia, metendo ao barulho ladrões de jóias, documentos ultra-secretos do governo dos EUA, mafiosos e...um professor de música que apenas queria ganhar uma bolsa para estudar uma teoria que envolve música e rochas.

Mas vamos ao início. Tudo começa com uma mala com um padrão escocês, explica-nos o livro que é aberto durante o genérico do filme, mala essa que esconde documentos secretos é apanhada por alguém no aeroporto de São Francisco. O problema é que de repente surgem mais três malas iguais que vão servir de pretexto para a confusão que se segue, pois todas as personagens do filme querem a sua mala, mas ninguém sabe que há várias malas iguais em jogo.

A partir daqui temos uma comédia de enganos que não perdoa ninguém: o professor perde a noiva, perde a bolsa, perde a mala. Enfim perde tudo, o que faz desta comédia uma recuperação muito bem conseguida das screwball comedies que tanto sucesso fizeram durante o período clássico de Hollywood.

E ainda temos direito a uma espectacular perseguição pelas ruas de São Francisco e pelas suas colinas que só acaba dentro de água. Esta perseguição tem uma cena genial, quase um clássico nas comédias, que acontece quando dois homens tentam atravessar a estrada com um vidro e ao mesmo tempo têm de se desviar dos carros da perseguição. Esta sequência é simplesmente genial.

Em relação ao elenco não há grandes nomes conhecidos. Com excepção de Barbra Streisand apenas encontramos Ryan O'Neal no papel do professor e algures num dos muitos secundários é possível encontrar Randy Quaid. Uma grande descoberta que poderá ainda ser vista no próximo dia 13 na Cinemateca.

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um Lugar Para Viver, de Sam Mendes (2009)

Para o meu regresso nada melhor do que um texto sobre um dos filmes que mais gostei de ver nos últimos tempos. Falo de «Um Lugar Para Viver» o mais recente de Sam Mendes, cineasta que não me tem defraudado e de cuja obra apenas me falta ver «Caminho Para a Perdição». Dez anos depois da sua estreia com o muito recomendável «Beleza Americana», Sam Mendes brinda-nos com uma bela história de um jovem casal no início dos 30 anos, com poucas perspectivas de futuro, que se vê a braços com uma gravidez inesperada. O que nós vamos vendo é o percurso deste estranho par - o aluado Burt Farlander (John Krasinski) e a sua amada com os pés mais assentes na terra Verona De Tessant (Maya Rudolph) - à procura de um rumo para as suas vidas.

Esta busca passa por diversas etapas que correspondem a lugares que o casal percorre para tentar identificar o seu 'lugar para viver'. (Nota: esta não é a tradução literal do título. Uma vez mais as distribuidoras resolvem 'inventar' títulos. No original «Um Lugar Para Viver» é «Away We Go», que nos remete para os 'capítulos' que Sam Mendes utiliza para segmentar o filme: Away to Montreal, Away to Tucson, etc.)

Pelo caminho vão tendo conversas e vivem alguns dias com amigos e familiares mais ou menos estabelecidos na vida, que lhes dão uma imagem do que eles podem vir a ser. Sempre num tom de comédia agridoce, a lembrar alguns filmes de cinema independente que volta e meia temos a sorte de ver em sala. Estou a lembrar-me de «Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos» ou «Juno», apenas para me focar em dois exemplos mais recentes. E um dos pontos de contacto com «Juno» é a excelente banda sonora. Apesar de recorrer a um estilo de música diferente, as músicas de Alexi Murdoch, nome que não conhecia e foi uma agradável surpresa ficar a conhecer, caem muito bem.

Para rematar, este filme é uma óptima surpresa, com um Sam Mendes a regressar ao cinema mais simples, apostando em actores pouco conhecidos do cinema. Tirando Jeff Daniels e Catherine O'Hara, que interpretam os pais de Burt, e Maggie Gyllhenhaal, são poucas as caras conhecidas. O próprio par protagonista é desempenhado por duas figuras que vêm da televisão dos EUA: ele é uma das caras da versão norte-americana do «The Office» e ela é proveniente da fábrica «Saturday Night Live».

E é curioso que estamos perante um filme bastante actual, à semelhança do que já se podia constatar com «Nas Nuvens», de Jason Reitman. O que este casal atravessa e as questões que enfrentam devem passar pelas cabeças de inúmeros casais dos dias de hoje. Se daqui a uns anos a minha opinião em relação a «Um Lugar Para Viver» mudar não me admiraria muito. Mas que este, tal como «Nas Nuvens», é um filme realizado na altura certa, não haja a menor das dúvidas. Por enquanto é um dos meus favoritos de 2010.

Nota: 5/5

Site oficial do filme

Banda Sonora: New Born, Muse

Sequela

Todo o fã de cinema sabe que muito raramente a sequela é melhor do que o original. Exemplos não faltarão e podia dedicar um post a este tema. Por isso não deposito grandes esperanças neste meu regresso. Assim como resolvi publicar o 'último' post a 1 de Março, resolvi agora voltar porque fiquei com pena de ter acabado um projecto que tanto acarinhei. Este período de reflexão levou-me também a constatar que escrever, ainda para mais sobre um tema que gosto, serve um pouco de escape para alguns dias que correm menos bem.

Nesse sentido este regresso vem com algumas alterações em relação à «Última Sessão» original. Em primeiro lugar o blogue vai ter menos notícias, pois é a parte que mais tempo me 'rouba'. Vou apostar mais nas críticas, nas imagens e vídeos, que tanto podem ser de trailers como de videoclips (sendo que a banda sonora continuará, mas também em moldes um pouco diferentes) ou cenas famosas, e talvez numa ou noutra reflexão para tentar promover a discussão em torno da Sétima Arte.

Outra das mudanças será a 'rubrica' banda sonora. Desta vez não será fixa, ou seja, se antes era alterada todas as segundas-feiras com base em algo mais ou menos assente na actualidade, daqui para a frente será actualizada quando calhar. Isto significa que tanto pode ser uma vez por semana, como várias vezes por semana ou mesmo menos do que isso. E não haverá um texto explicativo. A banda sonora apenas mudará consoante o estado de espírito do autor deste blogue.

Aos leitores que me lêem agradeço o vosso tempo e espero que compreendam a minha ausência. Prometo que vou tentar não vos defraudar com esta sequela. A sessão está novamente aberta.