segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Anjo Exterminador, de Luís Buñuel (1962)

Algo de estranho se passa na Rua da Providência. Um grupo de personalidades de classe alta regressa de um espéctaculo musical para jantar e depois de passar um serão prolongado na casa do anfitrião Edmundo Nobile acaba por ficar por lá a dormir. O pior acontece na manhã seguinte, quando descobrem que não conseguem sair da sala onde pernoitaram. E não sabem porquê. Nem nós ficamos a saber, pois «O Anjo Exterminador» não nos dá respostas.

O que não significa que não seja um dos melhores filmes que o Cinema nos deixou. Realizado por Luís Buñuel é um dos expoentes máximos do cineasta espanhol, que uma vez mais leva o absurdo a níveis geniais. Começa logo quando os criados abandonam sem razão aparente a casa, no mesmo momento em que entram os convidados. Depois vemos a troca de ordem dos pratos: primeiro entra o prato principal (que acaba por não entrar) e só depois as entradas. Até chegarmos à tal manhã em que ninguém consegue (ou não quer) sair da sala. Do lado de fora da casa acontece o mesmo. Por razões inexplicáveis ninguém consegue entrar na casa para falar com quem lá está.

Ao mesmo tempo «O Anjo Exterminador» não deixa de ser um excelente retrato dos seres humanos quando se vêem em situações extremas. E claro, não faltam as célebres alfinetadelas de Buñuel a dois dos seus ódios de estimação: a Religião e a Burguesia. A Religião está presente logo no início com o plano que nos mostra que estamos na Rua da Providência. Já dentro de casa são várias as cenas em que o divino se imiscui com o (comportamento) profano. Há promessas para ir a Lourdes em peregrinação com o propósito de comprar uma imagem da Nossa Senhora em borracha lavável (pormenor de humor divinal, diria), imagens de santos nas paredes e até ataques ao padre jesuíta que toma conta das crianças de um dos casais aprisionados, quando o marido diz à esposa que já notou que a sua esposa estava a ser seduzida pelo preceptor dos seus filhos. A Igreja volta a ser atacada no genial final (não conto, pois vale mesmo a pena ver, por muito absurdo que seja).

As criticas à Burguesia estão no próprio comportamento das personagens. A mesquinhez e os ódiozinhos entre alguns, as acusações de que os donos da casa são os responsáveis por estarem ali aprisionados, a forma como tratam um dos convivas que entretanto morreu. Em suma, «O Anjo Exterminador» é uma obra ao absurdo e um dos grandes filmes de sempre, que vale a pena ver e rever. Esta foi a segunda vez que o vi e volto a recomendar vivamente.

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

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