quinta-feira, 31 de março de 2011

A Fúria da Razão, de Don Siegel (1971)

Depois do homem sem nome da trilogia dos dólares, de Sergio Leone, o inspector Harry Callahan, também conhecido como Dirty Harry (o título original de «A Fúria da Razão»), é capaz de ser uma das personagens mais icónicas interpretadas por Clint Eastwood. Foi precisamente neste «A Fúria da Razão» de 1971 que o realizador Don Siegel, a par de Leone um dos grandes mentores do Eastwood realizador, nos apresentou este agente da lei sui generis, que cumpre os seus princípios sem prestar contas a ninguém. Quanto mais o Mayor de São Francisco.

É nas ruas da cidade da Golden Gate que Callahan trabalha. Na sua estreia a missão é apanhar Scorpio, um psicopata livremente inspirado no verdadeiro Zodiac (caso verídico que atormentou São Francisco durante a década de 1970 e que chegou aos cinemas em 2007 pela câmara de David Fincher - numa das cenas, se a memória não me atraiçoa, as personagens deste filme chegam mesmo a ir ao cinema ver «A Fúria da Razão»), que resolve começar a matar os habitantes da pacata localidade. Teve azar, foi precisamente Dirty Harry o agente escolhido para ir atrás dele.

«A Fúria da Razão» é um bom policial, que faz parte de uma das épocas de ouro do género. Só pela personagem principal já vale a pena ver, apesar de ser o típico anti-herói. Pragueja contra tudo e contra todos, é racista e sexista e tem uma forma bastante peculiar de evitar um suicídio: um murro no candidato é o que basta para este não se atirar do alto do prédio. E os diálogos, apesar de politicamente incorrectos, são delirantes. Quem nunca viu ou sorriu quando Harry pergunta o mais do que mítico: «Do I feel lucky? Well, do you, punk?», que atire a primeira pedra. Para quem não viu, o vídeo está ali em baixo.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB



Em Cartaz: Semana 31/03/2011

O Tio Boonmee Que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, de Apichatpong Weerasethakul
O Agente Disfarçado: Tal Pai Tal Filho, de John Whitesell
Sobre Rodas, de Drew Barrymore
Winx Club: A Aventura Mágica 3D, de Iginio Straffi
Sucker Punch - Mundo Surreal, de Zack Snyder
Perigo à Espreita, de Antti Jokinen

quarta-feira, 30 de março de 2011

Um filme, vários posters: Moon - O Outro Lado da Lua, de Duncan Jones (2009)

Colômbia

Coreia do Sul

EUA

EUA

EUA

Portugal

Rússia


Suécia

Suécia

terça-feira, 29 de março de 2011

Biblioteca cinematográfica: O Nome da Rosa, de Umberto Eco

O Livro : Publicado em 1980, «O Nome da Rosa» foi o primeiro romance do italiano Umberto Eco, um dos maiores especialistas em semiótica. O livro é um romance histórico com tonalidades de policial (sem polícias e ladrões ou detectives), protagonizado por William of Baskerville (nome que remete para a personagem de Sherlock Holmes), um frade franciscano, e o seu discípulo Adso of Melk. Os dois são chamados a um mosteiro situado no Norte de Itália devido a uma questão teológica, mas acabam por se deparar com uma série de estranhas mortes.

Além de ser um excelente retrato da Idade Média, nomeadamente da vida e do poder do clero naquele período histórico, «O Nome da Rosa» acaba por ser uma reflexão sobre a literatura e a forma como alguns livros eram vistos pela Inquisição, pois mais tarde vemos que é a leitura de um determinado livro é responsável pela morte de quem os lê. E tal como não podia deixar de ser, e isso é muito comum na restante obra de Umberto Eco, o escritor recorre à sua sabedoria nesta matéria para apresentar alguns dos termos que lhe são caros, como os sinais e os seus significados que vão sendo analisados sob um ponto de vista empírico de William. Já o aprendiz Adso serve de ponte com o leitor, pois também este vai aprendendo com as ideias do seu mentor.

O Filme: «O Nome da Rosa» é um dos filmes que mais terá passado na televisão portuguesa durante os anos 1990. Realizado pelo francês Jean-Jacques Annaud, o filme chegou às salas de cinema em 1986, fruto de uma co-produção da Alemanha, França e Itália. Nos papéis principais encontramos o ex-James Bond Sean Connery, que interpretou William of Baskerville e chegou quase a estar fora da produção, e o praticamente estreante Christian Slater, como Adso of Melk.

Bastante fiel ao livro em que se baseia, a adaptação é um dos grandes filmes dos anos 1980 e explora bastante bem os cenários do mosteiro onde decorre a acção, sobretudo as cenas que decorrem na biblioteca. De realçar que este mosteiro não existe, foi recriado numa colina nos arredores de Roma e reza a lenda que foi um dos maiores cenários de exterior criados na Europa desde a rodagem de «Cleopatra». Apenas algumas das cenas interiores foram filmadas na Abadia de Eberbach, na Alemanha. O esforço de Jean-Jacques Annaud, que levou cerca de quatro anos a preparar o projecto, renderam ao filme vários prémios, com destaque para o César de Melhor Filme Estrangeiro e dois Baftas: Melhor Actor Principal e Melhor Maquilhagem.



segunda-feira, 28 de março de 2011

Banda Sonora: No Shelter, de Rage Against The Machine

«No Shelter», de Rage Against The Machine - Banda Sonora de «Godzilla», de Roland Emmerich

domingo, 27 de março de 2011

Homens de Negócios, de John Wells (2010)

Um filme com o Ben Affleck no elenco gera sempre algum receio, pois não é dos melhores actores destes tempos. Se acrescentarmos Kevin Costner, muitos cinéfilos ficarão de pé atrás. Felizmente não é isso que acontece com «Homens de Negócios», a estreia de John Wells no grande ecrã. Não sendo um grande filme, acaba por se ver bem e trata um tema bastante actual: o desemprego e a crise. O argumento centra-se em três funcionários da GTX, uma grande empresa do ramo da construção naval que está a atravessar um período conturbado e quem sofre na pele são os milhares de desempregados que deixa como rasto.

Dentro deste grupo de desempregados há três que fazem a história de «Homens de Negócios», cada um com o seu papel no filme: Bobby Walker (Ben Affleck), um responsável de vendas perto dos 40 anos que fica sem emprego e sem a vida de luxo que tinha quando perde o emprego de repente, Phil Woodward (Chris Cooper), um dos funcionários mais antigos da GTX, que está prestes a fazer 60 anos e subiu a pulso até obter um certo estatuto e é também despedido, e Gene McClary (Tommy Lee Jones), um dos melhores amigos do CEO da empresa que começa a discordar deste e segue o mesmo caminho dos outros dois.

O drama destes homens serve para retratar um cenário que infelizmente se passa um pouco por todo o lado. As empresas pensam cada vez mais nos lucros e menos nas pessoas que as fazem crescer. Os exemplos que são dados pelas várias personagens ao longo do filme são de arrepiar. E cada um à sua maneira, os três personagens espelham realidades diferentes e a forma como se pode ou não ultrapassar as dificuldades de uma fase muito complicada. Há quem aguente e há quem não aguente. A personagem de Ben Affleck acaba por ser a mais completa, pois é a que tem de partir de baixo para recuperar uma vida perdida. A forma como ele tenta manter as aparências mostra como é difícil passar de bestial a besta. Mesmo apesar das limitações que o actor tem, desta vez conseguiu ter um bom desempenho, tal como Chris Cooper. Já Tommy Lee Jones, poderia estar melhor.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

Rédea Solta, de Bobby Farrelly e Peter Farrelly (2011)

Dentro das comédias com um certo humor escatológico, os irmãos Farrelly estão entre os mais populares, graças a filmes como «Doidos por Mary», «Ela, Eu e o Outro» ou «Doidos à Solta». E «Rédea Solta» não podia ser diferente. Uma vez mais o filme é dominado por uma dupla de amigos. Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis) são dois homens na casa dos 30 casados e que só pensam em sexo, sobretudo mais novas, e as suas esposas resolvem dar-lhes uma semana de folga do casamento, para fazerem o que bem lhes apetecer.

O filme relata essa semana livre de compromissos, que de início é um pretexto para os dois regressarem à vida de solteiro, mas que acaba por não resultar da melhor maneira. É que nenhum dos dois consegue alcançar o que tanto queria. Pelo contrário, as suas esposas, que começaram por não concordar com a ideia, acabam por levar a sério a semana de liberdade e aproveitam também para usufruir o momento. No final todos se redimem e o filme acaba bem.

«Rédea Solta» é a típica comédia norte-americana actual, sem grandes piadas e que nunca foge do lugar comum. Previsível até dizer chega, apenas consegue ter alguma piada numa das cenas: a da discoteca, mas aqui é sobretudo graças à presença de Richard Jenkins, que interpreta o misterioso Coakley, uma personagem bem conseguida. Mesmo assim não chega para tornar o filme algo de jeito. E uma vez mais Owen Wilson consegue provar que é um dos actores de comédia com menos piada dos últimos anos. Este tipo de filmes faz-nos sentir saudades das comédias mais clássicas, que de tão simples conseguiam maravilhas.

Nota: 2/5

Site oficial do filme

Belle du jour: Elizabeth Taylor

Elizabeth Taylor, em «Cleopatra», de Joseph L. Mankiewicz

sábado, 26 de março de 2011

Camino, de Javier Fesser (2008)

(Este texto poderá ferir algumas susceptibilidades, mas vou tentar não o fazer)

É difícil ver este filme. Não só porque acho que é mau, mas pela própria história, inspirada em factos reais, que nos conta Javier Fesser. Apesar dos seis prémios Goya (os Óscares espanhóis) que conquistou em 2009, entre os quais o de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Original, «Camino» não é um filme que se veja de ânimo leve. E tenho de confessar que estive quase para sair da sala de cinema, o que seria uma primeira vez na minha experiência de cinéfilo.

A Camino (Nerea Camacho) do título é uma rapariga de 11 anos criada numa família católica, com as suas dúvidas próprias da idade, que apesar da educação que lhe deram preferia por vezes seguir outros caminhos, como participar numa peça de teatro em vez de assistir a aulas de culinária. Mas a mãe, bastante controladora de toda a família, não o permite. E fá-lo ao longo de todo o filme, contra todos os membros da família. Quando Camino se apaixona pelo primo de uma colega da escola, curiosamente chamado Jesus, os médicos descobrem que a rapariga sofre de um tipo de cancro bastante complicado de curar.

A história já de si é durinha de engolir. Podíamos estar perante um novo «Mar Adentro», mas o filme não podia ser mais diferente. A religião é aqui o centro do filme e conseguimos ver a força que ainda tem em certas pessoas. Quando Camino vai falando das suas preces e de como ajudam os outros, mas deus e Jesus parecem que nada fazem para a salvar, surge logo o capelão a incentivar a sua mãe a promovê-la como santa, porque as instâncias católicas dizem que há falta de santos. E quando uma mãe, mesmo sendo personagem, diz que fica feliz por a filha morrer, já diz muito sobre o que está em causa.

Javier Fesser cumpriu o seu papel, ao criar um filme que crítica a forma como muitos se apoiam na tragédia de uma menina com uma vida enorme e sonhos pela frente para defender este tipo de actos. Acaba por fazer uma dedicatória a Alexia González Barros, uma rapariga espanhola que morreu da mesma forma e está em processo de beatificação que serviu de inspiração ao filme, o que não deixa contudo de ser um paradoxo, pois ele também acaba por aproveitar a situação.

Mas nem se trata apenas desta questão. A história em si já é demasiado horrível para ser aproveitada da forma como foi. E não querendo embirrar ainda mais com um filme que não gostei, ver os dois miúdos apaixonados de olhos esbugalhados (sobretudo Nerea Camacho) sempre que se vêm é um bocado exagerado. Mesmo tendo em conta que este foi o realizador de uma adaptação da BD «Mortadelo e Filemón», exigia-se um mínimo de realismo. No campo da interpretação destaque para Carme Elias, que interpreta o papel da mãe de Carmino. Tirando isso, salva-se muito pouco, a não ser um calvário de mais de 2 horas, que por vezes nos deixa bastante desconfortável.

Nota: 1/5

Site oficial do filme

Sorrisos de uma Noite de Verão, de Ingmar Bergman (1955)

Mais um interessante retrato das relações humanos é o que nos apresenta Ingmar Bergman em «Sorrisos de uma Noite de Verão». O filme relata a história de várias pessoas e as suas paixões umas pelas outras. Vou tentar simplificar: o advogado viúvo Fredrik (Gunnar Björnstrand) é casado em segundas núpcias com a jovem Anne (Ulla Jacobsson), com quem sabemos posteriormente o casamento não foi consumado. Quando conhecemos o casal, o advogado prepara-se para levar a esposa ao teatro, para ver uma peça onde participa a sua antiga amante Desiree Armfeldt (Eva Dahlbeck), que já não vê há alguns anos. Ao mesmo tempo chegou o seu filho Henrik (Björn Bjelfvenstam), um jovem com algumas dúvidas entre seguir carreira na Igreja ou deixar-se levar pelas suas paixões: primeiro pela empregada do pai, Petra (Harriet Andersson), depois pela madrasta. Entretanto, quando Fredrik se vai encontrar com Desiree descobre que esta tem um amante, o conde Carl Magnus Malcolm (Jarl Kulle), que por sua vez é casado com uma amiga de Anne. O desenlace vai ter lugar num fim-de-semana organizado pela mãe de Desiree na sua mansão, onde todas as paixões recalcadas se descobrem e cada um tem o destino que merece.

(spoiler) Curiosamente o resultado final acaba por representar um grande volte-face para todos: quem estava bem no início acaba mal, e quem estavam mal quando o filme começa acaba bem. «Sorrisos de uma Noite de Verão» é mais um daqueles bons filmes de Bergman, por vezes com um tom cómico, que nos faz pensar sobre as dúvidas perante tudo o que está à nossa volta. E os temas abordados dois grandes temas: o Amor, representado nos vários casais em cena, cada um com as suas especificidades, e a Religião, tema bem caro à obra do cineasta sueco, bem expressa na relação entre Fredrik e o filho.

Mas as grandes personagens acabam por ser duas secundárias: Petra e o criado da mãe de Desiree, que também acabam por ser levados pela paixão, que funcionam como uma espécie de consciência de todas as outras personagens.

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

sexta-feira, 25 de março de 2011

Frase(s) que marcam um filme: Veludo Azul, de David Lynch (1986)

Jeffrey Beaumont: It's a strange world.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Em Cartaz: Semana 24/03/2011

Manhãs Gloriosas, de Roger Michell
Rédea Solta, de Bobby Farrelly e Peter Farrelly
Mel, de Semih Kaplanoglu
Camino, de Javier Fesser
Justin Bieber: Never Say Never, de Jon Chu
Alpha & Omega, de Anthony Bell e Ben Gluck

quarta-feira, 23 de março de 2011

Elizabeth Taylor (1932-2011)

Morreu Elizabeth Taylor, uma das maiores divas de Hollywood, conhecida tanto pelo seu talento e beleza como pela polémica vida que levou ao longo de 79 anos.

Nascida a 27 de Fevereiro de 1932 no Reino Unido, apesar de ser filha de pais americanos, Elizabeth Taylor estreou-se no cinema aos 10 no filme «There's One Born Every Minute», de Harold Young. Posteriormente começou a participar em séries para um público juvenil, nomeadamente a célebre «Lassie». Na década de 1950 começa a ter alguns papéis em filmes de relevo, como «Ivanhoe», de Richard Thorpe, «Quo Vadis», de Mervyn LeRoy, «O Gigante», de George Stevens, ou «Gata em Telhado de Zinco Quente», de Richard Brooks. Nessa mesma década consegue as primeiras três de cinco nomeações para os Óscares.

Na década seguinte tem mais algumas das suas interpretações memoráveis, nomeadamente «BUtterfield 8», de Daniel Mann, «Cleopatra», de Joseph L. Mankiewicz, ou «Quem Tem Medo de Virginia Woolf?», de Mike Nichols. O primeiro e o último papel deram-lhe os seus dois únicos Óscares da carreira. A partir dos anos 1970 a sua presença no grande ecrã começa a diminuir e a sua última aparição dá-se em 2001, quando entra na série de TV «God, the Devil and Bob» e no telefilme «These Old Broads».

Apesar da sua beleza e talento, a vida fora das luzes da ribalta sempre foi polémica, em grande parte devido aos seus inúmeros casamentos e divórcios. Nos últimos anos tinha dado a cara em campanhas a favor da luta contra a Sida, tendo mesmo sido uma das primeiras celebridades a defender esta causa. As causas da morte de Elizabeth Taylor, que sofria de problemas cardíacos há alguns anos, ainda não foram desvendadas. Ficará para sempre na memória de muitos cinéfilos.





segunda-feira, 21 de março de 2011

Banda Sonora: No Surprises, de Radiohead

«No Surprises», de The Radiohead - Banda Sonora de «A Residência Espanhola», de Cédric Klapisch

Micmacs - Uma Brilhante Confusão, de Jean-Pierre Jeunet (2009)

Há cineastas que conseguem criar universos facilmente reconhecíveis. Seja porque têm características que nos permitem topar à légua o que lá vem, seja pelo recurso aos mesmos actores ou até à forma como filmam um determinado género cinematográfico. Jean-Pierre Jeunet é um desses realizadores e isso está bem patente no seu mais recente filme, «Micmacs - Uma Brilhante Confusão», que chegou às nossas salas com dois anos de atraso. Tirando talvez a sua aventura norte-americana, quando filmou um dos episódios da série «Alien», todos os seus filmes nos remetem para um mundo entre o real e o imaginário.

Em «Micmacs - Uma Brilhante Confusão» o protagonista é Bazil (Dany Boon, um bom actor cómico francês, que nos deu um ar de sua graça em «Bem - Vindo ao Norte», filme que ele próprio realizou e estreou há um par de anos), o funcionário de um clube de vídeo, cujo pai morreu vítima de uma mina quando era criança, que leva um tiro na cabeça e fica com a bala presa no cérebro. Depois de uma operação em tons surrealistas, em que o cirurgião decide se lhe tira a bala ou não atirando uma moeda ao ar, Bazil fica desempregado e sem abrigo e resolve vingar-se dos fabricantes da bala e da mina que destruíram a sua vida.

Para tal conta com a ajuda de um conjunto de sem abrigos, cada um com as suas características peculiares, que o acolhem no seu seio e se comprometem a continuar a dar-lhe guarida apenas se ele aceitar a ajuda deles para defrontar os seus inimigos, dois fabricantes de armas rivais. A história consegue bastante original e o mesmo se pode dizer do ambiente e personagens criadas por Jean-Pierre Jeunet (a contorcionista é memorável), mas acaba por ser demasiado confuso com demasiadas trocas e baldrocas que não conseguem dar o ritmo desejado ao evoluir do argumento. Mesmo como panfleto anti-guerra, que é no fundo o principal objectivo do filme, não cola, pois as caricaturas dos dois magnatas rivais estão demasiado exageradas. Infelizmente perdeu-se uma boa história, que mesmo assim é capaz de agradar aos fãs do realizador de «Delicatessen».

Nota: 3/5

Site oficial do filme

domingo, 20 de março de 2011

Copacabana, de Marc Fitoussi (2010)

Quem for ver «Copacabana» a pensar que vai ver um filme passado no Brasil e com as belas praias do Rio de Janeiro como cenário, desengane-se. Aqui há praias, mas ficam na Bélgica, onde decorre parte da acção. O Brasil apenas está presente nos sonhos da personagem principal e na excelente banda sonora, ponteada de momentos de samba e sobretudo MPB.

O mais recente filme de Marc Fitoussi é uma comédia dramática que conta a história de Babou (Isabelle Huppert), uma mulher de meia idade que faz o que dá na real gana até se aperceber, quando a filha Esméralda (Lolita Chammah) lhe diz que não a quer presente no casamento para não a envergonhar, que algo vai mal. Até aqui a (aparentemente) irresponsável Babou resolve ir à procura de trabalho e acaba por encontrá-lo a vender apartamentos na cidade belga de Ostende. Se num primeiro momento o filme parecia ser sobre a relação mãe-filha numa fase mais negativa (a propósito, as duas actrizes são mãe e filha na vida real), quando Babou segue para Ostende e acaba por se ir descobrindo aos poucos. O final feliz acaba por tornar o filme num feel good movie.

«Copacabana» é um filme que se vê bem, mas nunca consegue passar para o terreno de um bom filme. Vale sobretudo pela personagem de Babou, que consegue fazer a sua vida contra tudo e contra todos (não é o que todos queríamos), e pela interpretação de Isabelle Huppert, uma vez mais excepcional. Talvez o problema seja mesmo o filme estar tão centrado em Babou e dar pouco tempo para o resto do elenco. A própria relação com a filha, e tanto se tem falado do facto de as duas actrizes serem mãe e filha na vida real, apenas está bem conseguida na cena final.

Nota: 3/5

Site do filme no IMDB

Os Três da Estação de Serviço, de Wilhelm Thiele (1930)

Sem sombra de dúvida que os grandes musicais foram feitos em Hollywood, sobretudo durante a década de 1930. Mas este não foi um género exclusivo do cinema norte-americano. No início dessa mesma década a Alemanha, antes da chegada de Adolf Hitler ao poder, também produziu alguns filmes musicais. «Os Três da Estação de Serviço», de Wilhelm Thiele, é um desses exemplos.

O filme é definido como uma opereta e conta a história de três amigos que vivem sozinhos e de repente ficam sem dinheiro. Para tentar recuperar as finanças resolvem abrir uma estação de serviço, depois de venderem o carro, o único bem que lhes restou. Assim que abrem a estação de serviço, onde trabalham por turnos, acabam por travar conhecimento com uma jovem e todos se apaixonam, à vez, pela cliente, sem que cada um saiba que ela é a paixão dos outros. Um dos problemas de trabalhar por turnos.

Sem querer tirar o mérito ao filme, «Os Três da Estação de Serviço» acaba por ser um pouco ingénuo. Os três amigos parecem um bocado tontos e a relação entre os três nunca é bem explícita. Mas acaba por ter alguns grandes achados. A começar na cena do 'despejo', quando os móveis não são transportados pelos homens das mudanças, mas literalmente voam, num efeito que nos faz lembrar que o cinema sempre foi (e continua a ser) mágico. Há ainda outra cena muito bem conseguida, desta vez com recurso a uma montagem em paralelo. Trata-se na sequência da luta entre os três amigos, quando vemos os três a lutar entre si e ao mesmo tempo os clientes batem à porta da estação de serviço onde ninguém os atende. O recurso aos sons dos carros durante alguns dos segmentos musicais também foi muito bem aproveitado.

Nota: 4/5

Site do filme do IMDB

Belle du jour: Harriet Andersson

Harriet Andersson, em «Mónica e o Desejo», de Ingmar Bergman

sábado, 19 de março de 2011

A Minha Mulher Favorita, de Garson Kanin (1940)

Quando «A Minha Mulher Favorita» começa parece que estamos a ver um filme de tribunal, com a entrada numa sala de audiências. Mas assim que arranca o diálogo (o primeiro de grandes diálogos do filme) entre Mick (Cary Grant) e o juiz percebemos que aqui não há julgamentos para ninguém. Estamos antes perante uma bela comédia de enganos, bem à moda da Holywood clássica. A presença de Cary Grant é já um indício.

A história é tão simples que tinha de descambar. Quando encontramos Mick no tribunal este está prestes a casar uma vez mais, mas antes o juiz tem de declarar a sua primeira esposa legalmente morta. Este atestado tinha de ser passado porque a primeira esposa de Mick tinha desaparecido num naufrágio. O problema é que Ellen (Irene Dunne) não chegou a falecer no naufrágio, mas andou perdida durante sete anos. Descobrimo-lo quando ela regressa a casa e encontra a sogra. A partir daqui é sempre a rolar, de equívoco em equívoco, até ao final de certo modo previsto.

O quinto filme de Garson Kanin é uma comédia bastante engraçada e inteligente, com inúmeros sentidos escondidos nas entrelinhas, alguns acabam por ser um pouco maliciosos. Tem cenas muito boas, nomeadamente a passagem de Mick e as duas esposas pelo hotel onde decorre a lua de mel do segundo casamento de Mick e as duas cenas no tribunal. Garson Kanin teve uma carreira curta como realizador, mas este filme valeu a pena.

Nota: 4/5

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Roman Polanski: Procurado e Desejado, de Marina Zenovich (2008)

Roman Polanski continua a ser hoje em dia um dos grandes nomes do Cinema, com um talento inegável. Mas por detrás deste enorme talento está uma vida bastante polémica e conturbada. Sobrevivente do Holocausto, onde perdeu alguns membros da família, começou a realizar curtas-metragens na Polónia natal durante a década de 1950 e na década de 1960 desponta finalmente quando filma «Repulsa», com uma jovem Catherine Deneuve. A partir deste filme começa a ser reconhecido um pouco por toda a parte e acaba por seguir para os EUA onde prometia vir a iniciar uma grande carreira. Prova disso são filmes como «A Semente do Diabo» ou «Chinatown», os únicos que conseguiu filmar em território norte-americano. A trágica morte da sua esposa Sharon Tate, em avançado estado de gravidez, às mãos da seita de Charles Manson acaba por devastar a sua vida.

A sua estadia nos EUA muda abruptamente em 1977 quando é acusado de violação de uma rapariga de 13 anos. Esta acusação e a iminência de uma condenação levaram o realizador polaco a sair do país, onde ainda hoje não pode entrar. «Roman Polanski: Procurado e Desejado» é um documentário realizado por Marina Zenovich em 2008 sobre o julgamento, com entrevistas a todos os protagonistas no processo, incluindo os advogados e a jovem que esteve no centro do caso. Só não surgem o juiz, que já faleceu, e o próprio Polanski, apesar de surgirem várias imagens de arquivo onde o realizador aborda o assunto.

Sem ser um filme favorável ou contrário aos eventos passados na mansão de Jack Nicholson onde tudo se terá passado, (penso que fica bem clarificado com todos os depoimentos o que se passou durante a sessão fotográfica e não querendo condenar ninguém, penso que o comportamento de Polanski com uma menor naquele caso não terá sido o melhor) o documentário consegue analisar um julgamento bastante surreal, palavra que chega mesmo a ser utilizada por um dos advogados, onde o protagonista acaba por ser o juiz Rittenband, um magistrado com um certo gosto pelo estrelato, não estivesse ele na terra delas.

Paralelamente ao processo que vai decorrendo em tribunal, o filme aborda um pouco da carreira de Polanksi até aquela altura e foca a sua personalidade, o que acaba por ser um trunfo e um atractivo para os fãs do cineasta. Mas este filme pode ser visto não só como o relato de um episódio da cultura popular que fez correr muita tinta na altura (e ainda nos dias de hoje), o que se vê nos enormes batalhões de jornalistas que invadem o julgamento, mas também a forma como funciona (ou não) uma justiça que se não é surreal acaba por ser considerada no mínimo peculiar.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

sexta-feira, 18 de março de 2011

Frase(s) que marcam um filme: Infiltrado, de Spike Lee (2006)


Dalton Russell: My name is Dalton Russell. Pay strict attention to what I say because I choose my words carefully and I never repeat myself. I've told you my name: that's the Who. The Where could most readily be described as a prison cell. But there's a vast difference between being stuck in a tiny cell and being in prison. The What is easy: recently I planned and set in motion events to execute the perfect bank robbery. That's also the When. As for the Why: beyond the obvious financial motivation, it's exceedingly simple... because I can. Which leaves us only with the How; and therein, as the Bard would tell us, lies the rub.

quinta-feira, 17 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Biblioteca Cinematográfica: Viagem Pela América, de Che Guevara

O Livro: Antes de se tornar o revolucionário que todos conhecemos, Che Guevara era um jovem argentino oriundo de uma família de classe média. Na altura um estudante de Medicina, o jovem Ernesto Guevara e o seu amigo Alberto Granado, recentemente falecido em Cuba, partiram numa viagem para atravessar a América do Sul a bordo da Poderosa II, a mota utilizada como meio de transporte para a travessia, mas que acaba por chegar apenas a Santiago do Chile. Durante cerca de nove meses esta travessia, que começou na Argentina e terminou na Venezuela, os dois jovens vão tomando consciência de uma realidade que desconheciam e acabaria por moldar a sua visão do mundo. «Viagem Pela América» é o diário escrito por Che Guevara sobre esses dias, com comentários sobre os diversos episódios que vão acontecendo aos dois e histórias das pessoas que vão encontrando em países como o Chile, Peru, Brasil e Colômbia. As descrições de uma comunidade de leprosos, que na altura viviam isolados, ou o relato das condições de vida dos mineiros chilenos, representam uma imagem diferente da habitual. Há quem considere estes diários de Che Guevara como as bases para as suas ideias revolucionárias, que acabaram tragicamente na Bolívia, depois de ter acompanhado Fidel Castro em Cuba. Sem sombra de dúvida, chegando ao fim desta «Viagem Pela América» conseguimos ver a evolução do argentino.

O Filme: Em 2004 o brasileiro Walter Salles realiza a adaptação do périplo de iniciação de Che Guevara em «Diários de Motocicleta». Num dos mais belos filmes da primeira década do século XX, com belas imagens da América do Sul, o realizador brasileiro conseguiu permanecer fiel ao original e leva-nos a acompanhar os dois aventureiros como se fossemos mais um dos membros da viagem. Para os papéis principais foram escolhidos o mexicano Gael García Bernal (Che Guevara) e o argentino Rodrigo de la Serna (Alberto Granado). No mesmo ano foi lançado um documentário, realizado pelo italiano Gianni Minà, que é um making of de «Diários de Motocicleta» que conta com a participação de Alberto Granado, na altura com 82 anos de idade. O filme de Walter Salles conquistou um Óscar (Melhor Canção Original) e recebeu uma nomeação (Melhor Argumento Adaptado).





segunda-feira, 14 de março de 2011

Banda Sonora: I'll Try Anything Once, de The Strokes

«I'll Try Anything Once», de The Strokes - Banda Sonora de «Somewhere - Algures», de Sofia Coppola

Chelsea Hotel, de Abel Ferrara (2008)

«Chelsea Hotel» é uma declaração de amor de Abel Ferrara ao ícone nova-iorquino que dá pelo nome de Chelsea Hotel. Por lá passaram e viveram durante grandes nomes das artes do século XX, mas também inúmeros desconhecidos que elevaram o edifício ao estatuto que tem hoje. Abel Ferrara, que também terá passado lá algumas temporadas, como dá a entender durante o filme, decidiu fazer este documentário quando se soube que o hotel tinha sido vendido e os novos donos queriam acabar com o edifício tal como era conhecido e despejaram os últimos inquilinos que ainda lá viviam.

Tal como referi acima, o filme é uma perfeita declaração de amor ao Chelsea Hotel, mas pouco mais do que isso. Vamos acompanhando Abel Ferrara enquanto entrevista os últimos e alguns antigos inquilinos, que contam as suas histórias de excessos, drogas, fantasmas e sexo nos vários andares. Os muitos 'fucks' que vai dizendo mais parecem os de um miúdo que acaba de descobrir um novo brinquedo. Tem boas histórias contadas pelos protagonistas, como as entrevistas ao realizador Milos Forman ou ao antigo gerente Stanley Bard, que para uns era um santo e para outros um sovina, a presença de 'personagens' em estado pouco credível (note-se o sujeito que conta a história de Sid Vicious e Nancy, um dos poucos segmentos ficcionados. Sid e Nancy são interpretados por dois actores, mas o narrador, se assim se pode dizer, era um dos habitantes do prédio) e algumas imagens de arquivo.

Uma justa homenagem a um ícone de Nova Iorque, de um tempo que já não existe mas que marcou uma certa imagem da Big Apple durante a segunda metade do século XX e que acabou por morrer com o 11 de Setembro (episódio também abordado), quando a segurança passou a ser prioritária na cidade que nunca dorme. Mas merecia um bocadinho mais. Para ficar a conhecer um bocado melhor a história do Chelsea Hotel, o site do filme é muito bom e recomenda-se.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

domingo, 13 de março de 2011

Mónica e o Desejo, de Ingmar Bergman (1953)

Se há cineastas que nos fazem reflectir, colocando as personagens em situações limite, quase como que imitando a realidade, Ingmar Bergman é por certo um deles. «Mónica e o Desejo», filme de 1953, é a história de um jovem casal sem grandes perspectivas (Mónica, de 17 anos, e Harry, de 19 anos) que foge durante o Verão para viver a sua paixão longe das preocupações. Mas o que começa como uma história de amor entre dois jovens que se vão descobrindo aos poucos começa a mudar quando Mónica engravida e os dois têm de começar a ser responsáveis. Harry faz tudo para manter o casal à tona, voltando à escola para dar uma vida melhor à nova família, mas a vontade de Mónica de continuar a ser independente acaba por acabar com o romance.

Interpretado por Harriet Andersson, papel que acabou por ficar um dos ícones do cinema europeu da década de 1950, e Lars Ekborg, o filme acabou por ajudar a carreira de Bergman a saltar para fora das fronteiras suecas, onde já era nome conhecido, não só como realizador, mas também como argumentista e encenador de peças de teatro. A história da descoberta do amor na adolescência está muito bem captada pela sua câmara e a própria utilização das estações do ano para representar o evoluir da relação é utilizada de forma magistral. De destacar também a forma como está retratada a juventude da altura, que tinha de trabalhar desde cedo para ganhar a vida, muitas vezes em trabalhos fabris. «Mónica e o Desejo» é um, dos muitos, grandes filmes que o realizador sueco nos deixou como legado.

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

Belle du Jour: Louise Bourgoin

Louise Bourgoin, em «As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec», de Luc Besson

sábado, 12 de março de 2011

As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec, de Luc Besson (2010)

Uma bela surpresa este «As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec». Realizado por Luc Besson, cineasta que pensava que já se tinha retirado destas andanças, o filme baseia-se numa banda desenhada franco-belga protagonizada por Adèle Blanc-Sec, uma jornalista do princípio do século XX que bem podia passar por uma Indiana Jones de saias. Nesta aventura a heroína tenta salvar a irmã, que sofreu um insólito acidente durante uma partida de ténis, recorrendo aos poderes de um cientista que consegue ressuscitar os mortos.

E esta missão leva-a ao Antigo Egipto onde vai buscar uma múmia que a poderá ajudar a salvar a irmã. O problema é que enquanto Adèle (Louise Bourgoin) se ausentou o cientista Marie-Joseph Esperandieu (Jacky Nercessian) treinou os seus poderes com um pterodáctilo, que por sua vez começou a semear o terror pelas ruas de Paris. Não sendo um daqueles filmes extraordinários, «As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec» é um filme de aventuras bem simpático, que se vê de uma assentada e sem nos deixar desiludidos. Os efeitos especiais estão muito bons, pois foram utilizados meios digitais e na animação do pterodáctilo parece que foi utilizado mesmo um boneco, o que nos faz lembrar certas técnicas utilizadas nos anos 1980 nos filmes de monstros.

«As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec» acaba por ser puro entretenimento, tal como os filmes de Indiana Jones o eram quando recuperaram os filmes de aventuras mais clássicos. E os pontos de contacto entre Adèle e o personagem criado por George Lucas e Steven Spielberg são vários. Desde a procura por relíquias antigas, neste caso é a múmia, às bocas que a heroína vai mandando ao longo do filme, passando pelo vilão Dieuleveut, protagonizado por um irreconhecível Mathieu Amalric. E o final é de tal forma ambíguo que não sabemos se vai continuar ou não. Mas depois desta aventura, esperemos que a heroína venha a ser resgatada no futuro.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

A Última Legião, de Doug Lefler (2007)

Apesar de ter um longo historial na área dos departamentos artísticos de alguns filmes, desenhando storyboards para várias obras, incluindo alguns filmes de Sam Raimi, e ter dirigido episódios de algumas séries de televisão foi só em 2007 que Doug Lefler se estreou no cinema. E desde então a sua ligação à Sétima Arte tem escasseado, pois uma visita ao seu site pessoal (bastante recomendável, diga-se de passagem, sobretudo para quem gosta de BD) faz-nos supor que regressou aos desenhos. E se calhar foi o melhor que poderia ter feito, pois «A Última Legião» não deixa grandes marcas.

Baseado num romance histórico o filme conta a história do jovem Rómulo (Thomas Brodie-Sangster), o último na linha de descendência dos Césares de Roma, que está em perigo de vida quando os Godos invadem Roma para destronar o poder do império. Entretanto é chamado da Britânia o comandante Aurélio (Colin Firth) para o proteger, mas isso não impede que Odoacer (Peter Mullan), o líder dos bárbaros, consiga raptar o jovem. Com a ajuda dos seus companheiros de armas Aurélio parte para salvar o jovem e mais tarde com o tutor do jovem, o mago Ambrosinus (Ben Kingsley), partem para a Britânia, onde estará a tal última legião que dá nome ao filme.

Apesar de ter pelo menos dois bons actores, como Colin Firth e Ben Kingsley, «A Última Legião» nunca consegue sair da mediania. As cenas de luta não estão nada de especial, o mesmo se pode dizer quando se fala das batalhas travadas, o que neste tipo de filmes costuma ser uma mais valia. Uma das principais falhas é a montagem, que está demasiado rápida e por vezes parece que quem a fez não estava a pensar bem no assunto. E Colin Firth, um actor que admiro bastante, nomeadamente quando interpreta papéis mais sérios (basta pensar em dois dos seus últimos dois filmes, «O Discurso do Rei» ou «Um Homem Singular»), não está talhado para ser herói de acção. A cena do discurso antes da batalha final é prova disso. Por fim, a própria história, quando acaba por meter a lenda de Merlin e da espada Excalibur ao barulho, dá a sensação que o realizador (ou o argumentista) foi um bocadinho longe demais.

Pequena nota: apenas vi o trailer do filme agora, depois de visionar o filme. Agora compreendo um bocado melhor a alusão à lenda do Rei Artur. Mas continuo a pensar que é demasiado rebuscado juntar romanos e esta história.

Nota: 2/5

Site do filme no IMDB

Com quem gostaria de beber um copo: Jean-Luc Godard ou François Truffaut?

Depois de uma semana de ausência, as noites de copos regressam ao «A Última Sessão». Para este mês vamos convidar realizadores europeus e para começar nada melhor do que Jean-Luc Godard e François Truffaut, dois monstros sagrados da Nouvelle Vague francesa. Até para aproveitar a estreia do documentário «Os 2 da (Nova) Vaga», de Emmanuel Laurent.

De um lado temos Jean-Luc Godard, que também acaba de 'estrear' por cá «Filme Socialismo». Com uma longa carreira de quase uma centena de filmes, entre longas e curtas, Godard estreou-se nos idos anos 1950 e continua a ser ainda hoje um dos cineastas mais prolíficos e inovadores do Cinema. Vindo da escola da revista francesa Cahiers du Cinema, tal como muitos outros realizadores da Nouvelle Vague, Godard mostrou ao que vinha em 1960, quando estreou a sua primeira longa-metragem: «O Acossado», com Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg. Depois disso teve várias fases, das quais se destacam os filmes mais políticos dos anos 1960 e a experimentação com o vídeo mais tarde. Polémico e sempre activo, Godard sempre gostou de inovar nos seus filmes e provocou ódios e amores ao longo da sua carreira, continuando a ser uma grande referência para as novas gerações de cinéfilos e realizadores. Quentin Tarantino é um deles, que deu à sua produtora o nome de «A Banda Apart», um trocadilho com o título original de um dos clássicos do realizador francês.

Do outro temos François Truffaut. Tal como Godard, veio dos Cahiers du Cinema e juntos foram inseparáveis durante um longo período. A separação deu-se com a estreia de «A Noite Americana», filme considerado por Godard como traição. Polémicas à parte, Truffaut foi outro dos nomes grandes desta fase do cinema francês, tendo filmado em 1955 a sua primeira curta metragem. Mas é em 1959 que se torna conhecido, quando estreia «Os Quatro Centos Golpes», o primeiro de uma série de filmes autobiográficos protagonizados por Antoine Doinel, personagem interpretada pelo actor Jean-Pierre Léaud. Ao longo de 27 filmes conseguiu alternar entre filmes para o grande público e obras mais alternativas, com algumas aventuras fora de França. Faleceu precocemente em 1984, deixando um enorme legado à Sétima Arte. A sua herança passou também para inúmeros realizadores que foram beber à sua obra alguma inspiração. O exemplo mais conhecido é Steven Spielberg, que ofereceu ao realizador francês um papel no clássico «Encontros Imediatos em Terceiro Grau».

Apresentações feitas, chega o momento da verdade. Com qual destas duas lendas gostariam de tomar um copo? E porquê? E já agora, que copo acham que as senhoras gostariam de beber.

A minha resposta: apesar de gostar muito dos dois, opto por François Truffaut, um dos meus realizadores favoritos de sempre. A pergunta que faria era qual o filme que nunca conseguiu realizar ou gostaria de ter realizado. Para beber, uma garrafa de vinho tinto.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Frase(s) que marcam um filme: W.. de Oliver Stone (2008)

George W. Bush: I believe God wants me to be president!

quinta-feira, 10 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

Somewhere - Algures, de Sofia Coppola (2010)

«Somewhere» tinha quase tudo para ser um bom filme. Mas, infelizmente, não é. No quarto filme de Sofia Coppola travamos conhecimento com Johnny Marco (Stephen Dorff) um actor com uma certa popularidade com uma vida vazia (logo na primeira cena ficamos a saber isso, quando o vemos a andar em círculos no seu Ferrari) a viver no mítico hotel Chateau Marmont. Mas a chegada da sua filha Cleo (Elle Fanning, irmã mais nova de Dakota Fanning) leva-o a repensar a vida que leva e qual o seu papel no mundo.

O argumento, da autoria da própria Sofia Coppola, é bom e a forma como retrata o vazio que é a vida de Johnny e o universo da fama, com todas as suas personagens à volta, está bem conseguido. A cena da conferência de imprensa é genial. O problema é que o filme não consegue levantar voo e fica-se sempre pelos pequenos episódios da vida aborrecida de uma estrela, que parece que nunca tem nada que fazer. No fundo o filme consegue transmitir bem a vacuidade da personagem, que é o que pretende, mas isso acaba por se tornar demasiado chato. Nem se chega a perceber se a falha está na escolha de Stephen Dorff, que não é um grande actor, na minha opinião. Já Elle Fanning prova que é tão boa actriz como a irmã. Apesar de menos conhecida, já participou em mais de 30 filmes, entre os quais «Babel» ou «O Estranho Caso de Benjamin Button», por exemplo.

É pena que Johnny Marco precise de uma hora e meia para perceber aquilo que nos vamos apercebendo nos primeiros minutos de filme. Com tanto tempo, acaba por ser penoso aguentar o filme, apesar de compensar, pois a história é de facto boa. E vale sempre a pena ouvir a «I'll Try Anything Once», uma bela música dos The Strokes. Mas merecia mais.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

Poesia, de Lee Chang-Dong (2010)

Tal como o próprio nome indicia, este é um filme com uma sensibilidade especial. «Poesia», o quinto filme do realizador sul-coreano Lee Chang-Dong retrata os dias de Mija (Jeong-hie Yun), uma senhora de 65 anos que começa a perder a memória por estar na fase inicial da doença de Alzheimer. É também nessa altura que começa a ter aulas de poesia e ao mesmo tempo descobre que o neto, que vive com ela depois do divórcio da mãe, faz parte de um grupo que cometeu um crime que resultou no suicídio de uma jovem. Para resolverem a questão os pais dos rapazes envolvidos querem juntar dinheiro para pagar uma indemnização à mãe da rapariga.

O filme é praticamente todo de Jeong-hie Yun, que tem uma interpretação muito boa. Ao seguirmos a anciã vamos acompanhando não só a sua perda de memória, mas também os seus dilemas e preocupações ligados ao comportamento do neto e com os pais dos colegas dele, que tudo fazem para que ela arranje o dinheiro, mesmo sabendo que ela não o tem. No fundo a poesia acaba por ser o único escape de Mija e as cenas em que a vemos reflectir sobre os poemas dos outros e a sua busca para conseguir escrever um poema são muito belos. No fim, apesar de todas as dificuldades, acaba por ser ela a única da turma a conseguir escrever um poema. E Lee Chang-Dong apresenta um belo filme, que lhe rendeu o prémio para melhor argumento na última edição do Festival de Cannes.

Nota: 4/5

Site oficial do filme