terça-feira, 19 de abril de 2011

Entrevista: Léa Teixeira, directora-geral do FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa

Dentro de uma semana o Cinema São Jorge, em Lisboa, vai receber a segunda edição do FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa. Organizado pela Padrão Actual, em co-produção com a Fundação Luso-Brasileira e o Cinema São Jorge, o festival vai ter este ano Portugal como país homenageado e o realizador João Botelho será alvo de uma pequena retrospectiva. No total vão estar em cartaz 78 produções, entre curtas e longas-metragens, que representam o cinema que se faz nos oito países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). O evento conta também com mostras temáticas, mesas redondas e oficinas para crianças e jovens. Destaque ainda para uma homenagem a Manoel de Oliveira, que vai dar o nome à Sala 1 do Cinema São Jorge e estará presente no festival no próximo dia 28 de Abril para apresentar a sua mais recente obra: «O estranho caso de Angélica». Tudo bons pretextos para ir ao São Jorge entre os dias 26 de Abril a 1 de Maio. A propósito do arranque do festival, «A Última Sessão» entrevistou (por e-mail), Léa Teixeira, directora-geral do FESTin.

A Última Sessão (AUS) - Como é que nasce o FESTin?

Léa Teixeira (LT) - O FESTin nasceu da iniciativa de duas jornalistas brasileiras residentes em Portugal e de um médico psiquiatra português que se deram conta da necessidade de fortalecer e celebrar a cultura lusófona através do cinema. Face à constatação do pouco espaço reservado à exibição de filmes produzidos nos oito países de língua portuguesa, surgiu a ideia de criar este festival onde todos pudessem estar representados, na medida das suas possibilidades, num ambiente de partilha, intercâmbio e inclusão social, conceitos que estão na base dos objectivos que estabelecemos.

AUS - Quais os destaques da edição deste ano?

LT - Este ano destacamos o número de filmes em exibição – um total de 78 –, sendo que 55 (entre curtas e longas) integram as secções de competição. Surpreendeu-nos a quantidade de filmes enviados a concurso, para um festival que está apenas na sua 2ª edição. A antestreia em Portugal do documentário Lixo Extraordinário, a mostra “Cinema para Inclusão”, bem como a homenagem a Portugal com uma retrospectiva de obras do realizador João Botelho, a mostra “Olhares sobre Portugal” e a homenagem a Manoel de Oliveira, são momentos especiais na programação deste ano.

AUS - Porque razão escolheram Portugal como país homenageado?

LT - Sendo a 2.ª edição, é, contudo, o primeiro ano em que o FESTin surge “em nome próprio”. O ano passado o festival decorreu no âmbito da Semana da CPLP, este ano arriscámos antecipar ligeiramente as datas e lançá-lo de forma independente. Sendo Portugal o país anfitrião e um dos países com uma produção cinematográfica mais sólida, o mais lógico seria escolhê-lo como o grande destaque.

AUS - Em ano de crise como é que vêem a produção nacional?

LT - A produção cinematográfica em Portugal (como em todos os países lusófonos) precisa de circular mais, de ter mais espaços de exibição nos circuitos nacionais e internacionais. Na verdade, cremos que para a área do cinema a crise que se sente actualmente é apenas um pouco mais dura do que a que já se sentia antes. Antes de mais os portugueses precisam de gostar e respeitar mais a sua produção cinematográfica, os filmes e realizadores que ganham prémios lá fora, mas não alcançam no seu próprio país a visibilidade que mereciam. A crise pode ser uma oportunidade para explorar outras vias de apoios e financiamento, de entreajuda e intercâmbio entre os países que têm como capital uma língua comum, e que também poderia ser bem mais valorizada do que o é de facto.

AUS - Nesta segunda edição o festival vai decorrer em parceria com a Fundação Luso-Brasileira. Como é que surge esta aproximação?

LT - Depois de na primeira edição termos integrado a Semana da CPLP e de, este ano, termos arriscado organizar o festival como uma iniciativa independente, a Fundação Luso-Brasileira surgiu-nos como um parceiro natural, uma vez que trabalha com os mesmo objectivos de reforço e difusão da cultura lusófona, nomeadamente através da organização da Mostra do Cinema Brasileiro. A necessidade de “refrescar” a Mostra do Cinema Brasileiro e o sucesso da primeira edição do FESTin levaram-nos a unir esforços para um fim comum. Ao mesmo tempo, a experiência da Fundação constitui uma mais-valia importante para a organização de um festival que conta quase exclusivamente com o trabalho de voluntários.

AUS - Quais as vossas expectativas para a edição deste ano? Ultrapassar a fasquia dos 2 mil espectadores da edição passada é um dos objectivos?

LT - Ultrapassar esta fasquia seria muito bom e é, naturalmente, uma das nossas maiores expectativas. Se tal acontecer, parece-nos um sinal positivo de que há uma curiosidade crescente em relação à produção cinematográfica lusófona e que talvez seja possível criar outros nichos de exibição para estes filmes com menos potencial comercial. Por outro lado, seria um enorme motivo de orgulho se o FESTin se revelasse um ponto de encontro e intercâmbio que desse origem a parcerias efectivas entre os diversos participantes. O que mais desejamos neste momento é que o FESTin seja um espaço onde todos se sintam bem e representados, onde possam expressar as suas opiniões de forma construtiva e encontrar soluções para tornar os laços linguísticos e culturais em mais acções concretas.

O FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa decorre entre 26 de Abril e 1 de Maio de 2011, no Cinema São Jorge em Lisboa. Mais informações aqui.

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